Última alteração: 28-06-19
Resumo
O presente trabalho se desencadeou por meio de discussões originárias na disciplina Corpo e Imaginário Social ministrada no 4º semestre do curso de Psicologia do UNIVAG, na qual foram abordados conceitos como: ascese, bio-ascese, sexo e gênero. A partir da leitura da bibliografia da referida disciplina e das discussões feitas em sala de aula, diversos trabalhos foram realizados e a partir destes, este resumo produzido. Temos por objeto apresentar nossa apropriação do processo de construção da subjetividade e como seu desenvolvimento foi moldado através dos tempos. Para tal, partimos da definição e conceituação das práticas ascéticas, executadas na antiguidade com o intuito de fortalecer o corpo e a mente ou o espirito, sempre com um fundo moral filosófico ou religioso, com um propósito de um bem maior que refletia diretamente na pólis. Chegamos então, as práticas bio-ascéticas, realizadas na atualidade, que reproduzem no foco subjetivo as regras da biossociabilidade. Ou seja, uma forma de sociabilidade apolítica constituída por grupos de interesse privados, visando o procedimento de cuidado com a saúde, sejam eles estéticos, higiênicos, longevidade, dentre tantos outros, sempre voltado para o cuidado corporal no sentido que o eu pericia o seu próprio corpo, com a finalidade de se formar uma bio-identidade, onde o sujeito se autocontrola, autovigia e autogoverna. O corpo torna-se o lugar de moral, sendo este o seu fundamento último e matriz da identidade pessoal, assim, a aparência virou essência, onde há constrangimento na liberdade de criação e anula a espontaneidade do ser, são práticas individualistas que não possuem preocupação com o outro ou com o bem comum. Nesse contexto, poucas pessoas têm realmente acesso ao imaginário social e sabem a influência deste na construção da imagem do corpo. Corpo este que é tanto ferramenta que eu tenho para me localizar nas relações de poder da sociedade quanto invólucro do eu, que se coloca na frente de batalha entre o eu e o mundo. Sabemos que o individuo que não se encaixa fica à margem, impossibilitado de fugir do padrão previamente estabelecido, o seu “corpo” é transformado em um “corpo político”. A partir das literaturas pesquisadas, percebe-se um caminho de desconstruções baseadas no entendimento social sobre a construção da identidade, apresentando a concepção de que somos seres sexuados, definidos pelos nossos corpos e cujas identidades são essencializadas na coerência entre sexo e gênero, resultando na criação de uma representação de “verdadeiro sexo”, a qual, incentiva os jovens a fazerem um exercício de autoanálise sobre sua sexualidade. Além disso, percebe-se uma quebra da sexualidade binária (homem e mulher), a qual a importância sexual formaliza a relação de heterossexualidade e, assim, abrindo espaço para a pluralidade de gêneros que penetra os espaços binários, sendo a prática da sexualidade que organiza o “eu” e faz do indivíduo uma identidade que não se submete, sendo postulado como identidades incompletas ou incorretas. Dessa forma, foi possível compreender que o sexo é entendido como corpo biológico natural (o indivíduo nasce XX ou XY), sendo diferente do gênero por esse ser um esquema de atribuições atrelado a ele e definido em um esquema binário criado em torno da norma que é de inclusão e, também, de rejeição; distinguindo da orientação sexual por ser relacionado a atração afetiva do indivíduo não definida pelo biológico. Em outras palavras, a identidade de gênero é a maneira pela qual o sujeito se reconhece frente aos gêneros feminino e masculino culturalmente construídos; o sexo é a criação de corpos sexuados que não passa de uma ilusão criada e reprisada para manter sua própria instituição, não definidor da identidade e não investido pela sexualidade; e a orientação sexual é uma construção de definição social, a qual o indivíduo direciona o seu objeto de afeto, seja ele qual for. Em síntese, as afirmações dos autores estudados demonstram o poder das construções sociais em que somos expostos, relacionando o arcabouço social com a constante transformação da identidade, assim como a constituição de gênero se constrói mediante o meio social em que somos inseridos.